13/11/2015 às 15h20min - Atualizada em 13/11/2015 às 15h20min

A “Questão Peruana” e a Fortaleza Pauxis em Óbidos – 1862

Por volta de uma hora da tarde do mesmo dia 26, o “Morona” apontou no rio Amazonas. A fortaleza de Óbidos deu dois tiros de canhão, com pólvora seca, um aviso para que o navio peruano se detivesse.

Por Pe. Sidney Augusto Canto
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ÓBIDOS - Um conflito acontecido em 1862 quase coloca em guerra as nações de Brasil e Peru. Para entender este impasse, é bom lembrar que o Rio Amazonas, em toda a sua extensão no território brasileiro, tinha navegação restrita somente a navios brasileiros. Em 1858, por meio de um acordo entre o Peru e o Brasil, foi franqueada ao país vizinho a navegação mercante, com a mesma franquia para com os navios brasileiros em águas do Amazonas Peruano. No entanto, em outubro de 1862, dois navios de guerra peruanos, o “Morona” e o “Pastaza” chegaram ao Pará quase que na surdina. O Governo paraense, como medida, mandou aos dois navios que ficassem no porto de Belém enquanto aguardava ordens imperiais sobre o que deveria ser feito, pois entendia que a navegação do rio Amazonas não estava franqueada a navios de guerra, como era o caso. O “Morona” desobedeceu e subiu o rio Amazonas de volta ao Peru.

No dia 23 de outubro, em Breves, o “Morona”, comprou lenha do senhor Francisco Honorato Vieira e na manhã do dia seguinte partiu para Gurupá. O Governo Provincial mandou-lhe o vapor “Belém” ao encalço do “Morona”. No dia 25 de outubro encontrou o navio peruano fundeado em Gurupá e lhe passou as ordens da presidência da Província. As mesmas foram desobedecidas. Em vista disso o “Belém” seguiu, à frente do vapor peruano para a Fortaleza de Óbidos, lá chegando às 8h da manhã do dia 26 de outubro. O comandante do navio paraense logo ordenou o desembarque da tropa e do trem de guerra, encontrando a Fortaleza Pauxis em um estado lastimável. Mesmo assim, a tropa armou o que havia na Fortaleza e armou uma bateria de artilharia nas margens do rio, o vapor “Belém” subiu para Manaus. Se Óbidos não retivesse o “Morona”, ele tentaria acordo com o governo do Amazonas para deter o mesmo.

Por volta de uma hora da tarde do mesmo dia 26, o “Morona” apontou no rio Amazonas. A fortaleza de Óbidos deu dois tiros de canhão, com pólvora seca, um aviso para que o navio peruano se detivesse. O mesmo não deu atenção ao aviso e colocou toda a força nas máquinas, encostando o quanto podia na margem oposta a Óbidos. A tropa não teve outra opção senão bombardear o navio. Foram dados oito tiros pela Fortaleza e seis tiros pela bateria da margem. Por conta da distancia, o “Morona” foi atingido por dois tiros, não sem revidar com cinco tiros e metralhar a tropa brasileira. O “Morona” parou, um escaler foi baixado para vistoriar o casco do navio, depois disso o comandante, mesmo com o casco avariado decidiu continuar a subida do rio. Ao chegar em frente à Colônia Militar de Óbidos, na foz do rio Trombetas, o “Morona” deu dois tiros de pólvora seca, como que a zombar da artilharia do Forte de Óbidos por não ter conseguido impor obstáculo maior à passagem do navio peruano.

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A sorte, porém mudaria, pois às 18h45min do mesmo dia, o vapor “Manaus” encontrou o “Morona” encalhado no baixio “Corococó”, distante cerca de três horas e meia de Óbidos. O navio foi escoltado para Manaus afim de aguardar o desenrolar dos fatos. O “Pastaza” foi encontrado no dia 28 de outubro, em Breves, fundeado em frente à casa do espanhol José Maria Martins. Levado para Belém, em 31 de outubro, a 04 de novembro seguiu para Caiena. Os jornais e o povo esperavam duas coisas: ou que o Peru fizesse uma retratação pela ofensa ou que o Império do Brasil declarasse guerra à República do Peru.

Logo começaram as negociações. Entre os dias 8 e 10 de janeiro do ano seguinte (1863), o governo peruano, através de seus diplomatas, pediam ao Império Brasileiro permitisse a volta dos dois vapores peruanos a Belém, a fim de que esperasse ali o desenrolar das negociações. Entre as condições impostas pelo governo brasileiro estavam as seguintes: o reconhecimento, por parte do governo peruano, de que a atitude do comandante do “Marona” foi ofensiva e irregular para com o governo brasileiro; o pagamento de uma multa à alfandega, por não haverem os navios peruanos preenchidos as formalidades fiscais; e por último e mais importante, o “Morona” deveria fazer uma salva de tiros à Fortaleza de Óbidos, por haver o comandante desrespeitado as intimações que lhe haviam sido feitas pelo governo provincial, em Belém, em Gurupá e, por fim, em Óbidos, ondo o “Morona” havia resistido, com suas balas, à soberania nacional.

Os protocolos diplomáticos aconteceram na capital do Império nos dias 15 e 22 de janeiro de 1863, sendo um acordo formal entre os dois países assinado a 24 de janeiro do mesmo ano. O “Morona” foi rebocado até Belém, onde recebeu os reparos necessários. A 23 de abril, oficialmente cessaram as hostilidades entre Brasil e Peru. Pelo acordo, a navegação no rio Amazonas ficava franqueada aos dois países conforme os protocolos estabelecidos. No dia 12 de junho o “Morona” deixou o porto de Belém. Pouco depois seguiu também o “Pastaza”. Ao passar pela Fortaleza de Óbidos, a 15 de junho, o “Morona” deu-lhe a salva de tiros cordiais, que foram respondidas pela artilharia do Forte, selando assim a paz entre os dois países.

 


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