Óbidos revolucionária

Revoluções Tenentistas na segunda década do século XX: Óbidos, e a Comuna de Manaus.

Um movimento que iniciou no rio de Janeiro em 05 de julho, passou por São Paulo e depois Manaus, chega em Óbidos onde a fortaleza da cidade foi tomada e bombardeada por aviões.

ÓBIDOS - No decorrer da segunda metade do século XX, teve início no Brasil um período de agitações dentro do exército brasileiro envolvendo jovens Tenentes, Cabos e Soldados motivados pela insatisfação da alternância das elites no poder, que tinham como protagonistas grandes latifundiários e fazendeiros que se opunham ao ideal democrático, fato este que ficou conhecido historicamente como “Movimento Tenentista”.

No dia 05 de julho de 1922, inicia-se no Forte de Copacabana na cidade do Rio de Janeiro um movimento armado que vai culminar com o episódio conhecido como “Os 18 do Forte de Copacabana”. Na ocasião após a deserção de grande parte dos envolvidos, 17 militares seguidos por um civil enfrentaram abertamente forças federais e foram covardemente assassinados sobrevivendo apenas Siqueira Campos e Eduardo Gomes, episódio que mais tarde daria origem a outras revoltas, tais como: A Coluna Prestes, A Revolta Paulista e a Comuna de Manaus.

No dia 05 de julho de 1924, militares do Estado de São Paulo liderados por Isidoro Dias Lopes iniciam um novo levante. Segundo Rocque (1999, pg.38), no dia 23 do mesmo mês, o 27º BC do Estado do Amazonas sob o comando do Capitão José Carlos Dubois, 1º Tenente Alfredo Augusto Ribeiro Junior, Tenente Magalhães Barata entre outros, tomaram o Governo do Estado tendo como justificativa acabar com o reguismo (alternância da família Rego no Governo do Estado do Amazonas), depor o governo interino (nesse momento o Amazonas era governado interinamente por Turiano Meira, pois o titular Sr. Cesar Rego Monteiro, visitava alguns países da Europa), e dar apoio ao General Isidoro Dias Lopes contra o governo do Presidente Arthur Bernardes.

Após tomarem o governo do Amazonas no dia 27 do mesmo mês, o Capitão José Carlos Dubois dirigiu-se com um destacamento militar a bordo dos navios Bahia (logo batizado de 23 de julho) e Ajuricaba ocupando a fortaleza de Óbidos que estava sob o comando do Capitão Oscar Bastos Nunes. Segundo comentários da época a Fortaleza se rendeu diante de uma ameaça de bombardeio da cidade e do afundamento de uma lancha ocupada por mulheres e crianças. Porém, segundo relato de Rocque (1999, pg. 40), ao entrevistar o filho do Intendente da época, Augusto Corrêa Pinto Filho afirmou que seu pai juntamente com seus familiares ao saírem “...da cidade para uma fazenda que ele possuía, a uma distância de 12 quilômetros [...] ouviram os primeiros tiros de canhão, da Fortaleza, já celebrando o desembarque dos revolucionários.” Fato este que caracteriza a adesão da Fortaleza de Óbidos ao movimento revolucionário.

Segundo ainda Rocque (1999, pg. 40), Corrêa Pinto Filho teria afirmado que “...nessa primeira leva de revolucionários que chegara a Óbidos, não estava Barata. E que dias depois, ele viajava para aquela cidade, a fim de assumir o comando da Fortaleza e dali dar início ao ataque a Belém, via Santarém.” Outro fato declarado por Corrêa Pinto Filho e´ que “Ao chegar, verificando que a melhor casa, a de acomodações mais confortáveis era do Intendente, dissera:

         - Vamos invadir esta casa, é a melhor da cidade. O ladrão que a construiu a fez com dinheiro público.
         O tenente Aluízio Ferreira, que conhecia Corrêa Pinto de longa data, por ele nutrindo admiração e respeito, colocara as mãos sobre os ombros do companheiro, retrucando:
         - Barata, o Corrêa Pinto não é o que você está imaginando.” (Rocque, 1999, pg. 40)
 
Casa do Intendente, Dr. Augusto Corrêa Pinto, transformada em QG do Ten. Magalhães Barata, 1924.

Após montar seu quartel general, o Tenente Magalhães Barata começou a colocar em ação seus planos, que tinham por objetivo tomar o Governo do Estado e se autoproclamar Governador do Pará, fato este que só viria a acontecer com a Revolução de 1930 e a chegada de Vargas ao poder.

Ao tomar a cidade de Santarém, foi informado que o governo do Estado tinha total controle da situação. Enquanto isso, numa tentativa de intimidar os revoltosos dois pequenos aviões sobrevoaram a cidade de Óbidos e soltaram algumas bombas nos seus arredores. Relatos transcritos no Livro de Crônicas do Convento de Óbidos, assim descreve aquele momento: “Houve alguns disparos dos grandes canhões contra os navios das forças legais que mal se enxergavam abaixo da Ilha Grande e a fuzilaria de metralhadoras contra o avião.” Fato este que trouxe como consequência um quase esvaziamento da cidade e grande deserção por parte dos revoltosos.

De acordo com a afirmação de Canto (1987, pg.10) “O 26º Batalhão de Caçadores avançou pelos fundos da cidade de Óbidos e iniciou a prisão de todo o Exército que lá estava. Quando pressentiram que os legalistas estavam entrando no Quartel de Óbidos, começou a fuga de quem pudesse se salvar, lanchas e canoas, atravessando para o lado direito do rio Amazonas e correndo por terra trocando as roupas do exército por roupas civis para lhes facilitar a fuga. [...] Os oficiais que fugiram com fuzis e sacos de balas, corriam pelos cacauais e matas para se esconderem, deixando os fuzis e balas, pelas casas, onde conseguiam roupas civis. [...] Mesmo assim, os legalistas prenderam muitos, ficando na cidade de Óbidos somente o Tenente Magalhães Barata e um outro seu auxiliar”.

No dia 26 de agosto, o tenente Magalhães Barata foi preso pelo comandante das forças legais, o General João de Deus Menna Barreto. Segundo informações verbais, ao ser levado para bordo, o tenente Magalhães Barata teria sido vaiado por parte da população obidense, atitude que despertou um grande ódio e rancor no líder revolucionário.

Com a chegada de Getúlio Vargas a Presidência da República no ano de 1930, e a consequente nomeação de Magalhães Barata como Interventor Federal do Pará, no dia 04 de junho do ano de 1933, Óbidos começa a perder parte de seu território com a instalação da Subprefeitura de Oriximiná.

Já no ano seguinte, através da Lei Estadual nº 1442, de 24 de dezembro, Oriximiná ganha sua autonomia política, e o município de Óbidos perde a maior parte de seu território e de sua riqueza mineral. Estava cumprida assim, a promessa de velho caudilho. Concluo parafraseando o grande poeta obidense, Francisco Manoel Brandão: Minha formosa PAUXI! Querida terra natal! [...] Teus filhos venceram! Ninguém te venceu!
* Prof. Esp. Carlos Augusto Sarrazin Vieira
 
BIBLIOGRAFIA
- BRANDÃO, Francisco Manoel. Terra Pauxi. SECULT-PA. Belém, 1997.
- CANTO, Eustórgio. Memórias de um vencedor. Gráfica EDICON. São Paulo, 1987.
- Livro de Crônicas do Convento de Óbidos.
- ROCQUE, Carlos. MAGALHÃES BARATA: O homem, a lenda, o político. SECULT-PA,
   1999.
- TAVARES, João Walter. Sinopse da História de Oriximiná. Gráfica e Editora Andrade
   Oriximiná, 2001.  
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