BRASIL - Um dos maiores povos indígenas isolados da América do Sul, a etnia yanomami vive na floresta amazônica há milhares de anos. Com tradições e crenças mantidas até hoje, eles se comunicam em sua língua nativa, mas algumas palavras que fazem parte do vocabulário da comunidade são desconfortavelmente reconhecíveis: helicóptero, espoleta, pólvora e tuberculose são alguns termos falados por eles em bom e claro português.
As palavras, aprendidas com os brancos (como eles se referem aos não-indígenas), refletem o inconfundível impacto da presença de garimpeiros ilegais em seu território e que está retratado no documentário "A Última Floresta", dirigido por Luiz Bolognesi e único longa brasileiro selecionado na prestigiada mostra Panorama do Festival Internacional de Cinema de Berlim.
O filme narra a luta do líder yanomami Davi Kopenawa (que assina o roteiro ao lado de Bolognesi) para defender o seu povo da exploração ilegal de minerais. A descoberta de jazidas de ouro nas terras yanomami já deixou marcas profundas na comunidade. Entre 1986 e 1990, estima-se que 1.800 nativos (20% da população) morreram em decorrência de doenças e conflitos causados por 45 mil garimpeiros que se infiltraram no território.
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"A Última Floresta" passará este primeiro semestre de 2021 marcando presença em festivais internacionais. O filme chegará em agosto a um serviço de streaming ainda não revelado.
Antes disso, "Ex-Pajé", documentário que Luiz Bolognesi dirigiu em 2018 denunciando manobras da igreja evangélica para desacreditar os xamãs no Brasil, entrará no catálogo da Netflix nas próximas semanas.
Em Ex-Pajé, um poderoso pajé passa a questionar sua fé depois do primeiro contato com brancos que julgam sua religião como demoníaca. No entanto, a missão evangelizadora comandada por pastor intolerante é posta em xeque quando a morte passa a rondar a aldeia e a sensibilidade do índio em relação aos espíritos da floresta mostra-se indispensável.