19/06/2023 às 15h42min - Atualizada em 19/06/2023 às 15h42min

Filme de Bruno Pereira ‘A invenção do outro’ é vencedor Mostra Ecofalante de Cinema

‘A invenção do outro’, filme sobre expedição da Funai liderada por Bruno Pereira, é o grande vencedor da Mostra Ecofalante de Cinema

‘A Invenção do Outro’ recebeu o troféu Ecofalante e prêmio de R$ 15 mil.
Fonte: Conexão Planeta

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‘A invenção do outro’, é o grande vencedor da Mostra Ecofalante de Cinema

BRASIL - Era março de 2019 (Bolsonaro tinha acabado de assumir a presidência) quando um grupo de servidores da Funai saiu em uma mega e delicada expedição para contatar indígenas isolados na Terra Indígena do Vale do Javari, a oeste do estado do Amazonas, planejada há tempos. Até hoje, ela é considerada a maior expedição das últimas décadas na Amazônia, realizada pelo órgão.

Liderada pelo indigenista Bruno Pereira (na foto acima), um dos maiores especialistas em indígenas isolados ou de recente contato do país (assassinado em junho deste ano junto com o jornalista britânico Dom Phillips), sua missão era encontrar e estabelecer o contato com um grupo de indígenas isolados da etnia Korubo e promover seu reencontro com parte da família contactada pelos indigenistas poucos anos antes.

Isso, num território em que vivem grandes inimigos dos Korubo, os Matis. O clima tenso entre os dois povos se acirrou a partir de 2010, quando os Matis tentaram reocupar terras que ocupavam no passado, vizinhas dos Korubo, na região dos rios Branco e Coari. Em 2015, integrantes de uma família Korubo foram capturados pelos Matis devido a desentendimentos. Parte deles participou da expedição e retornou à família. Emocionante!

O mundo do outro na tela

É essa história que o cineasta Bruno Jorge conta em seu longa-metragem documental ‘A Invenção do Outro(assista ao trailer no final deste post), o grande vencedor da 12ª Mostra Ecofalante de Cinema, em São Paulo, com o Prêmio do Júri na categoria Longa-Metragem da Competição Latino-Americana e o Prêmio do Público de Melhor Longa-Metragem do festival.

Anna Muylaert (diretora, produtora e roteirista), Helena Ignez (atriz e diretora) e Zienhe Castro (cineasta e produtora cultural), que formaram o júri da Competição na categoria longa-metragem, declararam que a obra de Bruno foi escolhida “pela precisão ética e estética na construção de um olhar que leva ao mesmo tempo ao mundo do outro e ao mundo esquecido de si”.

Uma câmera na mão

Sem equipe, foi Bruno Jorge quem fez os registros desta vibrante jornada com equipamento limitado já que o grupo era grande e navegariam em barcos, levando mantimentos para passar muitos dias acampados.

Na volta da Amazônia, além da edição primorosa de todo o material colhido – realizada de forma primorosa pelo diretor -, Bruno contou com o talento de Bruno Palazzo para fazer a edição do som.

Imagine contar apenas com o microfone da própria câmara para registrar conversas de um grupo grande, em uma expedição tão importante, que se juntou a outro (os Korubo isolados, muito emocionados com o reencontro e curiosos), tendo ao fundo os sons da natureza rica, densa e úmida da floresta amazônica! Por isso, foi também mais que merecida a distinção com o prêmio Candango nesse quesito.



O longa é longo – tem 144 minutos ou quase 2 horas e meia -, mas não senti o tempo passar: ‘sequestrou’ minha atenção e todos os sentidos. Impossível não mergulhar naquele universo e na experiência de todo o grupo. Difícil voltar à realidade porque nos deslocamos do eu.

Isso foi muito bem explicado pelo diretor no 55º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB), em novembro de 2022, no qual conquistou não só o prêmio de melhor filme pelo júri oficial  que o definiu como “uma experiência cinematográfica arrebatadora” -, como também os troféus Candango de melhor fotografia, melhor edição de som e melhor montagem (contamos aqui).

“Segundo a psicanálise, o nosso ‘eu’ não nasce pronto, ele é um processo de construção, que começa quando a gente nasce e começa a se identificar com os atributos do outro. Somos camadas de vários outros, que a gente vai tirando e, no final, não sobra nada. Quero agradecer ao júri por premiar um trabalho que tem um deslocamento do eu, da desterritorialização da autoimagem”, declarou Bruno Jorge na ocasião, e finalizou:
“Acho que o principal aprendizado dessa experiência foi que a gente não precisa se identificar com a gente mesmo para se identificar com o outro. Podemos partir de um outro lugar, do coletivo”.


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