31/08/2022 às 08h45min - Atualizada em 31/08/2022 às 08h45min

Orcas da Península Ibérica e seu estranho comportamento | Portal Obidense

Antes de mais nada, a partir de 2020 um grupo de orcas da Península Ibérica passou a chamar a atenção de velejadores, autoridades portuárias e pesquisadores

Da Redação
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INTERNACIONAL - Antes de mais nada, a partir de 2020 um grupo de orcas da Península Ibérica passou a chamar a atenção de velejadores, autoridades portuárias e pesquisadores. Apesar de ser um animal que sabidamente não ataca seres humanos, de um hora para outra as orcas da região passaram a interagir sobretudo com veleiros, mas não apenas. Há relatos, poucos, de contatos com barcos de pesca. Recentemente, no final de julho de 2022 aconteceu novamente. À primeira vista, seriam dois ataques no mesmo dia. Num deles, na costa de Portugal, o veleiro afundou. A mídia internacional tem dado amplo destaque aos fatos. Assim, as redes sociais igualmente trazem relatos quase semanais. Invariavelmente, as matérias dizem que ‘cientistas procuram respostas’ para o comportamento incomum.
 

Algumas questões sobre os ataques das orcas

 
Inicialmente, vamos registrar que estes encontros acontecem sobretudo na região da Península Ibérica e imediações. Os litorais de Portugal e Espanha concentram a maioria dos casos. Entretanto, já houve relatos na costa francesa e do Marrocos. Contudo, restringem-se a estes trechos. Como exceção, houve um único caso no litoral baiano.
 
Outra similaridade é que quase todas descrições coincidem em mais um detalhe:  os animais se aproximam do leme das embarcações, algumas vezes quebrando-os. Este site já leu diversos casos diferentes, porém sempre com mais este detalhe singular.
 
Por último, ainda não surgiu nestas matérias uma explicação que encerrasse o mistério. Uma coisa entretanto é certa: todas alertam que pesquisadores estão atônitos, ou que não sabem o motivo, mas têm algumas sugestões.
 
Este é o caso da matéria do www.npr.orgKiller whales are ‘attacking’ sailboats near Europe’s coast. Scientists don’t know why    (Orcas estão ‘atacando’ veleiros perto da costa da Europa. Os cientistas não sabem por quê).
 

Conheça as orcas

 
São predadores do topo da cadeia. Um tipo de animal altamente evoluído. As orcas são capazes de adotar técnicas de caça inesperadas, porém quase sempre distintas entre os vários grupos que se espalham pelos oceanos. Por quê?
 
Pesquisadores concordam que as orcas geralmente vivem em clãs. Os grupos normalmente são de poucos indivíduos variando entre uma dezena até 50 animais, entretanto, o mais comum são grupos menores formados por até 15 animais.
 
Às vezes há grupos que se sobrepõem em determinadas áreas. Contudo, todos ‘respeitam’ sobretudo indivíduos do sexo feminino. Em outras palavras, orcas são matriarcais. Além disso, outra característica marcante é que caçam em conjunto.
 
Segundo o www.killer.whale.org, ‘As ligações entre uma fêmea e seu filhote são as mais fortes dentro de um grupo social de orcas, mas quando crescem deixam a mãe para viajarem sozinhos ou com outro grupo. Ao contrário de outras espécies do reino animal, as orcas fêmeas são as dominantes em sua sociedade’.
 
Por último, diz o site, ‘as orcas têm um comportamento individual e uma estrutura social interessante. São muito inteligentes, têm grande capacidade de trabalhar juntas e um instinto incrível para proteger os membros de sua comunidade’.
 
E, além disso, há inúmeras outras características. Porém, acreditamos que para o leigo as explicações acima são um bom começo para entender o que vem acontecendo desde 2020.
 

Uma entrevista esclarecedora com um especialista

 
Tão logo estes encontros começaram o Mar Sem Fim entrevistou o professor do Instituto Oceanográfico da USPMarcos Cesar de Oliveira Santos, especializado nestes predadores.
 
Nós igualmente estávamos perplexos com a novidade que, para alguns, ‘parecia um ataque’. Mas, como assim? De uma hora para outra resolveram fazer o que nunca antes foi registrado?
 
Antes de mais nada, não há até hoje um único caso conhecido de ataque de orcas a seres humanos. Além disso, este escriba já navegou ao lado delas, na Antártica, sem qualquer problema. Ao contrário. Muitas vezes os belos animais se aproximam demonstrando curiosidade, jamais agressividade.
 
Para Marcos, “as orcas são sociedades matriarcais com comportamentos distintos entre grupos e mesmo gerações.” E completou: “nós primatas é que não conseguimos entender.”
 

Os ‘possíveis ataques’ não foram na verdade ataques

 
Para Marcos ‘a imprensa está usando este verbo, ‘atacar’. Contudo, orcas, assim como golfinhos e baleias (todos cetáceos) são muito curiosas. A tendência delas, no meio em que evoluíram há 50 milhões de anos, é  fuçarem tudo. Elas procuram investigar tudo que encontram’.
 
‘Predadores do topo da cadeia têm uma grande abundância de alimentos. Ao longo do tempo estes animais se adaptaram à disponibilidade de alimentos das regiões que frequentam. Em geral elas não se alimentam de animais de sangue quente, apenas peixes, lulas, enfim, animais de sangue frio. São estas as variadas estratégias alimentares que desenvolveram.
 
Algumas poucas populações se alimentam de animais de sangue quente. Este é o caso das orcas das regiões polares, por exemplo. Elas se adaptaram para em suas estratégias alimentares aproveitarem a quantidade de focas da região.
 

Estratégias alimentares

 
Já ficou famoso um filme que mostra uma foca em cima de uma banquisa de gelo quando um grupo de orcas nada em alta velocidade em sua direção para, ao chegarem à banquisa, pararem abruptamente levantando suas caudas. Isso produz uma onda que varre a banquisa, levando a foca para o mar. Em seguida, ela é devorada.
 
‘Então, diz Marcos, nós humanos vemos o sangue que se espalha no mar. E humanos têm medo de sangue, daí alguns nome populares como ‘baleia assassina’, um nome infeliz, uma expressão cem por cento humana que não deveria ser usada’. Isso talvez explique o verbo mais utilizado pela mídia, os ‘ataques’ das orcas da Península Ibérica que trazem as consequências de espanto e dúvida que vemos nas mídias sociais.
 

A importância do som embaixo d’água

 
O professor Marcos diz que ‘jamais saberemos o que de fato aconteceu nestas interações entre orcas e embarcações. Só poderíamos descobrir se entrássemos na cabeça delas’, brinca. Mas ele também tem um palpite. ‘Uma explicação é que estamos atrapalhando a comunicação dos animais.’
 
Marcos explica que os estudos mais longevos sobre orcas acontecem ao largo dos Estados Unidos e têm apenas 40 anos. Logo, temos ainda muito a aprender sobre estes animais e os três tipos de grupos que existem: os residentes, os transitórios e os migratórios.
 
No Brasil, por exemplo, sabe-se muito pouco. Apenas que as orcas aparecem no verão atrás de raias para sua alimentação. Os estudos por aqui ainda estão para serem feitos. Contudo, sabe-se que o som é importante para as orcas e cetáceos em geral.
 
Marcos explica que ‘os cetáceos eram animais terrestres que reconquistaram o meio aquático’. Diz ainda que ‘o som foi sua principal ferramenta. Os animais o usam para comunicação social e para a localização entre eles’.
 

Um saída para avistagem ao largo de São Sebastião

 
Para encerrar, Marcos conta sobre uma saída para estudos ao largo de São Sebastião quando viram um grupo de 16 orcas. Imediatamente, tentaram se aproximar. Contudo, quanto mais avançavam, mais as orcas se afastavam. ‘Até que o capitão do barco sugeriu, por acaso, desligarem todos os equipamentos de bordo, sobretudo a sonda’.
 
Este instrumento, para quem não conhece, emite pulsos abaixo da quilha da embarcação até o fundo do mar. Ao medir o tempo que o pulso demora para voltar, descobre a profundidade do local.
 
Foi tiro e queda. Tão logo desligaram a sonda as orcas vieram curiosas. Todas foram fotografadas, como ele diz, enquanto ‘fuçavam’ a novidade (ou seja, o barco). Então, para tirarem a dúvida o instrumento foi novamente ligado.
 
Tiro e queda, mais uma vez. Assim que foi ligada a sonda os animais fugiram outra vez. Este comportamento sugere que possivelmente são contra estes barulhos que as orcas da Península Ibérica agem. Não à toa, quase todos os relatos falam sobre a perda do leme. Acontece que o leme de fato é a parte mais frágil abaixo da linha d’água de um barco.
 
E, curiosamente, as sondas quase sempre são instaladas na parte de trás do casco de um veleiro, ou seja, normalmente próximas ao leme.
 
Como disse o professor na interessante entrevista, ‘nunca vamos saber com certeza o motivo deste comportamento. Mas, de todas as hipóteses, a que ele oferece é a mais plausível até o momento.

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