Concebido a partir do entendimento de que medidas de desenvolvimento baseadas apenas em indicadores econômicos são insuficientes, o IPS analisa exclusivamente variáveis socioambientais. Neste ano, o IPS da Amazônia Legal foi gerado a partir da análise de 45 indicadores de áreas como saneamento, saúde, moradia, segurança, educação, comunicação, direitos individuais e qualidade do meio ambiente.
Para o cálculo deste índice, uma nota de 0 a 100 é gerada, do pior para o melhor.
Na média, os municípios amazônicos registraram IPS de 54,59. Entre os 20 municípios campeões no desmatamento, o IPS médio é ainda mais baixo: 52,38. A média nacional é 63,29.
Sete municípios da lista dos maiores desmatadores não conseguiram atingir 50 pontos no IPS, ficando nas 70 piores colocações entre todos os 772 municípios da Amazônia Legal. São eles: Portel (PA), Apuí (AM), Senador José Porfírio (PA), Novo Repartimento (PA), Uruará (PA), Anapu (PA) e Pacajá (PA). Este último figura na segunda pior colocação de toda a Amazônia, com índice de 44,34.
As duas cidades que lideraram o ranking do desmatamento medido pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), Altamira e São Félix do Xingu, ambos paraenses, tiveram IPS de 52,95 e 52,94, respectivamente. Os números também estão abaixo das médias da Amazônia Legal e do Brasil.
Além do desmatamento, na lista de municípios com piores índices também figuram aqueles fortemente associados ao garimpo ilegal e conflitos sociais, como Jacareacanga, Nova Ipixuna, Nova Conceição do Piriá e Pau D’Arco, todos no Pará.
Se a Amazônia fosse um país, seu IPS de 54,59 (média) se assemelharia ao de Camboja, que registrou índice de 54,52, aponta estudo.
Dos 772 municípios avaliados, apenas 15 (2% do total) registraram IPS um pouco acima da média nacional.
“O IPS atesta mais uma vez que o desmatamento só tem gerado pobreza, conflitos sociais e inibido o desenvolvimento econômico da Amazonia”, afirma Beto Veríssimo, co-fundador do Imazon e um dos líderes do estudo.
O trabalho divulgado nesta segunda-feira – o terceiro dos levantamentos de IPS conduzidos no Brasil pelo Imazon, após edições em 2014 e 2018 – também mostrou que o progresso social nos municípios da Amazônia tem piorado ao longo dos anos.
Dos 772 municípios amazônicos avaliados, quase metade (49%) teve redução no índice e outros 21% mantiveram-se estáveis em comparação à última edição do estudo. Na média, o IPS caiu de 54,64 em 2018 para 54,59 em 2021.
O trabalho do Imazon contrapõe as falas de Bolsonaro e seus ministros sobre desenvolvimento na região Amazônica. Ao longo de todo mandato, o presidente e autoridades têm tratado a questão econômica como adversária da preservação. Nos três primeiros anos da atual gestão, foram comuns as declarações afirmando que é necessário pensar no desenvolvimento econômico no bioma para depois preservá-lo.
Bolsonaro também costuma defender a legalização de atividades com alto impacto ambiental em grandes áreas de preservação, como a mineração em Terras Indígenas, e a realização de obras de grande risco à preservação, como o asfaltamento da BR-319, por exemplo, como propulsoras de desenvolvimento.
O estudo, no entanto, mostra uma realidade diferente. Em 2020, ano em que a Amazônia perdeu 10.851 km² de floresta, os estados do bioma contribuiram com apenas 9% do PIB nacional, enquanto geraram 52% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil.
“As curvas de crescimento econômico e desmatamento estão dissociadas. No período de maior queda na taxa de desmatamento (dentre 2004 e 2012), e economia cresceu. E o contrário ocorreu nos últimos anos (2017 a 2021), com a economia em baixa e o desmatamento em alta”, diz trecho do documento. “O fim do desmatamento seria favorável para o meio ambiente, mas isso é apenas um dos motivos para atingi-lo. O desmatamento zero também poderia trazer enormes benefícios para a economia da região”.