24/11/2018 às 15h53min - Atualizada em 24/11/2018 às 15h53min

Adeus senhor Beija. Morreu em Óbidos aos 87 anos, folclórico Mata Onça

Coloboração: Edsergio Morae e Dino Printes
Por: Walmir Ferreira
Foto: Edsergio Moraes
ÓBIDOS – Manoel Barbosa de Oliveira, apelidado carinhosamente como "Mata Onça", faleceu na tarde deste sábado (24) em Óbidos.  Mata Onça tinha 87 anos e estava hospitalizado na Santa Casa de Misericórdia a vários dias após sofrer um AVC (acidente vascular cerebral). O sepultamento será neste domingo (25), no Cemitério São João Batista, as 09h da manhã, seu corpo está sendo velado em sua residência, localizada na Trav.Liberdade próximo ao canto azul, bairro de Fátima.

Seu Manoel Barbosa de Oliveira era conhecido popularmente por Mata Onça, mas também chamado pelos amigos de infância como o Sr. Beija, pessoa folclórica, humilde, sábia por natureza e muito conhecido entre nós. Para quem não o conhecia celebrava a alegria e simpatia como sinônimo de vida.
 
Nasceu no dia 31 de março de 1931, 24 horas antes ao 1º de abril, na comunidade de Mondongo município de Óbidos, e segundo informações de seu Manoel quando completou 15 anos  trabalhou  como binoclonista na companhia Loyd Brasileiro no navio Barão do Rio Branco por quatro anos, foi ajudante de máquina por três anos no navio Princesa Leopoldina e  integrante da Comissão de Limite de Fronteira  em 1952, funcionário da empresa Usina Pérola do grupo I. Hamoy e Companhia de processamento de castanha do Pará e de 1979 até 1994 jardineiro da empresa Gutierre em Porto Trombetas.
 
Já estava aposentado e residia na travessa Liberdade, 513, bairro de Fátima em Óbidos. +1931   - 2018
 
Escreveu uma vez, Dino Priante, ao Portal Obidense, onde contou um pouco sobre sua experiência
 
O FOLCLÓRICO “MATA ONÇA”
 
Os obidenses, nascidos no século XX, e que viveram as décadas de cinqüenta, sessenta e setenta, conheceram esse famoso obidense, principalmente por suas estórias mirabolantes, tanto como caçador ou pescador.
 
O chamavam de Senhor Beija, mas seu apelido era “Mata Onça”, talvez por sua fama de mateiro e caçador desse felino tão famoso da selva amazônica. Era um caboclo inteligente, andava sempre descalço, seus pés eram para dentro, residia na Almirante Barroso em Óbidos, rua que tangencia o Hospital e a casa que era do Sr. Luiz Bode, vizinho ao Sr. Zeca Caim.
 
Sua esposa Dona Tapuia foi nossa lavadeira, uma vez ou outra tinha que ir até sua casa, buscar alguma peça de roupa que teria que ser lavada com maior urgência. Hoje, não sei seu paradeiro, a última informação que tive, trabalhava na mineradora Rio do Norte no Trombetas.
 
Essa sua mania de narrar fatos impossíveis, ou seja, mitômano compulsivo, segundo uma pesquisa efetuada na Califórnia do Sul, EUA – diz que o cérebro dessas pessoas apresenta 26% a mais de massa branca com relação às pessoas sinceras. A massa branca atua na transmissão das informações, enquanto a cinzenta o processa.
 
Os pesquisadores acreditam que a quantidade a mais de massa branca no córtex pré-frontal estimula a mentira. Já o British Journal of Psychiatry, afirmou que além dessas, há outras diferenças nos cérebros dos mentirosos.
 
Seria impossível falar do “Mata Onça”, sem contar algumas de suas “façanhas”. Vou narrar as que eu ouvi pessoalmente na minha infância e pré adolescência, quando residia em Óbidos.
 
A primeira foi na barbearia do Senhor Laurentino, que ficava na primeira porta da Formosa Obidense, prédio construído pelo meu avô Silvestro Savino, quem sobe a Corrêa Pinto. Contava ele: Que estava nas matas do Buiuçú, caminhando, encontrou um pedaço de um disco “Long Play”; esse pedaço tinha o orifício central, onde encaixava no eixo dos toca discos da época. Ele pegou esse pedaço de disco e jogou para cima, e continuou a caminhada. No retorno pelo mesmo caminho, já era à tardinha, silêncio absoluto na mata, ouviu a aquela musiquinha bem baixinho: Chiquita bacana lá da Martinica se veste com uma casca de banana nanica! Música de l949, composição de Braguinha e Alberto Ribeiro, ele olhou para cima, o pedaço do disco havia caído em uma laranjeira, de tal maneira que o vento dava e o pedaço do disco rodava em torno de uma pequena guia de um galho e o espinho fazia o papel da agulha da vitrola.
 
A segunda estória me encontrava na barbearia do Sr. Jacó Pinto, na Rua Bacuri, aguardando para cortar o cabelo. Mata Onça veio com essa: estava pescando com o Sr. Senen, esse senhor era um grande pescador, residia em frente ao Curro, os dois estavam pescando de arpão, um na popa e outro na proa da mesma montaria, era uma canoa de aproximadamente vinte e dois palmos de comprimento, logo surgiu um peixe boi e um pirarucu simultaneamente; foram arpoados por eles, mas os animais eram de acordo com seu português: “disconforme di grande”, não suportando a força dos arpoados, largaram as cordas dos arpãos e amarraram na canoa, os animais tinha tanta força, que quando nadaram em sentido contrário, a canoa se partiu na transversal, os dois caíram na água, perderam a canoa, arpão e os peixes. No final ele dizia: Pergunta para o finado Senen.
A terceira estória que eu ouvi de sua própria voz, foi no trapiche “novo” de Óbidos, ele sempre rodeado de muita gente para ouvirem suas estórias, era época da piracema do jaraqui, contava ele: Estava tarrafeando na ponta  do trapiche, quando numa das lanceadas, a tarrafa engatou nas pontas de estacas que havia em frente ao atracadouro, a cerca de três metros abaixo da lamina dágua, seu companheiro, resolveu mergulhar para desvencilhar a tarrafa, passado mais de vinte minutos, o amigo não retornava, “Mata Onça” preocupado, resolveu ir atrás do amigo, quando chegou ao fundo, o encontrou, sentado em uma peça de madeira consertando a tarrafa, fez sinal para ele retornar, quando chegaram à tona, seu amigo disse-lhe que estava acostumado e ficaria mais dez minutos debaixo dágua.
 
Há alguns anos, sugeri que trouxesse o “Mata Onça” por ocasião da festa dos Pauxis no mês de outubro, para homenageá-lo, e ouvir pessoalmente suas estórias, mas nunca se interessaram, também são sei onde ele anda ou se ainda está entre nós.
 
Dino Priante -     [email protected]
 
 


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