30/01/2016 às 14h05min - Atualizada em 30/01/2016 às 14h05min

Arte na Aldeia: Encantando com os encantados

Projeto de extensão fará resgate da cultura imaterial no Território da Cobra-Grande.

Por: Talita Baena
Foto: Ufopa

SANTARÉM - Idealizado por dois universitários do curso de Antropologia, Patrícia Juruna e João Tapajós, o projeto de Extensão Universitária da Ufopa, "Arte na Aldeia: Encantando com os encantados", coordenado pela profa. Lilian Rebellato, pretende fazer registro fonográfico das histórias contadas às crianças (curumins e cunhatãs). A fase de coleta das narrativas ocorrerá nas comunidades Arimum, Karuci, Lago da Praia, e Garimpo, onde vivem as etinias Arapiun, Jaraki e Tapajó, no Território da Cobra-Grande, na região do Arapiuns, no início do mês de fevereiro.

A partir do registro, o projeto irá desenvolver Compact Discs (CDs), materiais didáticos e Teatro de Fantoche com as próprios relatos, que poderão ser utilizados nas escolas das comunidades do território. De acordo com a coordenadora do projeto, a materialidade das narrativas serão apresentadas de forma bilíngue, traduzidas para o nheengatu, já que essas comunidades vivem um processo de resgate da própria identidade indígena, perdida com o processo de colonização e catequização. “Eu já havia trabalhado em um projeto de difusão da Arqueologia em escolas do Ensino Médio, então a Patrícia e o João fizeram uma proposta de desenvolver um projeto de extensão com estudantes do ensino fundamental e médio nas escolas indígenas no território da Cobra-Grande. Foi interessante porque foi uma demanda deles de registrar as histórias que são contadas para as crianças, e isso é importante, pois essas comunidades estão tentando resgatar a cultura e valores indígena, tentando reconstruir este imaginário dos encantados, contidos nas narrativas da região”, explica Rebellato.

Para Patrícia Juruna e João Tapajós, pais do pequeno Arthur, a ideia surgiu quando saiu o edital do “Mais Cultura para as Universidades”. “Percebendo as poucas pesquisas que ocorrem dentro das aldeias, queríamos fazer um trabalho amplo, então tivemos a ideia de fazer o projeto e apresentamos à profa. Lilian, que aceitou o desafio de colaborar conosco, dando forma e metodologia à proposta.”, conta Patrícia Juruna.

Perspectivismo ameríndio

Segundo João Tapajós, o projeto de extensão pauta-se no perspectivismo ameríndio, conceito desenvolvido pelo antropólogo brasileiro, Viveiros de Castro, no qual o autor qualifica as várias cosmologias ameríndias. “Um exemplo disso, é que na nossa visão, um curupira não é um ser de cabelo vermelho que serve pra gente ri dele, o curupira é um ser espiritual que não tem forma, mas sabemos que ele existe, ele é um ditador de normas, e se nós ultrapassarmos um limite, iremos sofrer sanções”, explica o estudante de antropologia, ressaltando ainda “as narrativas não são lendas, elas são nossas histórias cotidianas”.

“A nossa ideia com o projeto é colaborar com os nossos pares. Além disso, também queremos levar, aos outros não indígenas, um pouco do nosso cotidiano e que eles passem a respeitar a cultura do outro, pois você não precisa fazer parte da cultura, mas você precisa respeitá-la”, espera Patrícia Juruna.

A previsão, ao final da atividade, é realizar o 1º Festival Artístico Cultural do Território da Cobra-Grande, com teatro de fantoche e lançamento de todo o material produzido no projeto.


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