02/04/2018 às 07h42min - Atualizada em 02/04/2018 às 07h42min

Amigos de Temer, soltos; Mas o ‘estrago foi feito’

Informações: Meio
Por: Walmir Ferreira
Fotos: Policia Federal

BRASIL - Na noite de sábado, o ministro do Supremo Luís Roberto Barroso determinou a soltura de dois amigos do presidente Michel Temer, José Yunes e João Baptista Lima Filho, além dos outros detidos durante a Operação Skala. O pedido de soltura partiu da procuradora-geral da República, Raquel Dodge — a mesma que havia requisitado sua prisão. Segundo Dodge, os depoimentos que eram necessários para a investigação sobre irregularidades no Decreto dos Portos já haviam sido tomados, tornando a continuidade das prisões desnecessária. Normalmente, aliás, a procuradora teria pedido uma condução coercitiva. Mas o recurso de levar alguém para depor de forma obrigada foi suspenso pelo ministro Gilmar Mendes, em dezembro. Sobrou a prisão temporária.

Valdo Cruz: “Logo após ter conhecimento da revogação das prisões da Operação Skala, o governo Temer avaliou que a decisão reduz a tensão dos últimos dias, mas não será capaz de reverter o estrago político na imagem do presidente. Segundo assessores, o ‘estrago está feito’ e ‘não tem volta’, prejudicando as articulações do emedebista para disputar um novo mandato. Na avaliação do governo, a única prisão que poderia ser justificável seria a do coronel João Baptista Lima Filho, porque ele vinha evitando prestar depoimento nos últimos nove meses. Lima, por sinal, manteve sua posição de não depor.”

Helena Chagas: “Raquel amarelou? Tudo indica que não, e que o fato de pedir a soltura desses acusados não quer dizer que não se achou grande coisa contra eles e contra Temer na operação Skala. Ao menos à primeira vista, o MP parece satisfeito. É bom lembrar que nem PF pediu a prisão dos amigos de Temer, solicitando, sim, sua condução coercitiva. Dodge transformou o pedido em prisão porque o instituto da condução está suspenso por liminar do ministro Gilmar Mendes. Barroso, que anda às turras tanto com Mendes quanto com Temer, aceitou. Apesar das acusações que pesam sobre esses personagens presos, o principal investigado no inquérito dos Portos é o presidente.”

Pois é: o ex-procurador-geral, Rodrigo Janot, lidera um abaixo-assinado em favor de o Supremo manter a prisão após condenação em segunda instância, praxe da maior parte das democracias. O documento circula desde a Sexta-feira Santa e, até às 15h de domingo, já contava com a assinatura de 3,8 mil promotores, procuradores e juízes de todo o país. É a maior ofensiva do Ministério Público em defesa do princípio. Na quarta-feira, o STF tomará uma decisão final a respeito do caso Lula — que já foi condenado pela corte de apelações. (Estadão)

José Padilha: “A série O Mecanismo é uma dramatização inspirada em acontecimentos reais, apresentada de forma a ilustrar uma tese. No Brasil, a corrupção não ocorre esporadicamente; ela é o mecanismo estruturante da política e da administração pública. As campanhas de todos os grandes partidos do Brasil são financiadas por empresas que trabalham para o Estado. Uma vez eleitos, políticos montam coalizões com base na distribuição de cargos que auferem controle sobre o orçamento público. O Estado, assim loteado, contrata as mesmas empresas que financiam as campanhas políticas dos grandes partidos, superfaturando orçamentos. O mecanismo não tem ideologia; ele opera nos governos de esquerda e de direita. Criou-se um ambiente irracional e polarizado, em que o dogmatismo ideológico da esquerda radical e o cinismo pragmático da direita fisiológica passaram a trabalhar juntos para negar o inegável, o fato de que todas as lideranças políticas dos grandes partidos são corruptas. Hoje, vemos os formadores de opinião de esquerda e os membros da direita fisiológica de mãos dadas, pressionando o STF para cancelar a prisão após condenação em segunda instância. Afinal, para a esquerda isso garantiria a impunidade de Lula; para a direita, a de Aécio, de Temer, de Jucá... O mecanismo, é claro, agradece.” (Folha)


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