09/09/2023 às 11h37min - Atualizada em 09/09/2023 às 11h37min

BC: estresse no setor financeiro global pode escalar para crise sistêmica

O Comef citou como pontos de atenção a resiliência dos núcleos de inflação e a deterioração das perspectivas fiscais nas economias centrais

Da Redação
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Foto: Ed Alves/CB/DA.Press

INTERNACIONAL -O Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) do Banco Central deu bastante espaço para os riscos no cenário global na ata do seu 54º encontro, que manteve o Adicional Contracíclico de Capital Principal relativo ao Brasil (ACCPBrasil) em zero. O comitê afirmou que há vulnerabilidades acumuladas no setor financeiro que podem escalar para a "materialização de uma crise financeira sistêmica".

O Comef citou como pontos de atenção a resiliência dos núcleos de inflação e a deterioração das perspectivas fiscais nas economias centrais, assim como a redução de ativos comprados por BCs durante a pandemia de covid-19 e disse que se mantém "relevante" o risco de episódios de reprecificação de ativos financeiros.

"Os eventos de estresse no setor financeiro mostraram que há vulnerabilidades acumuladas tanto nos bancos quanto em instituições financeiras não bancárias que podem escalar para a materialização de crise financeira sistêmica", disse o BC na ata, ponderando que até o momento as economias emergentes têm mostrado resiliência diante do cenário externo adverso e que a exposição do sistema financeiro do Brasil ao risco cambial e à dependência do funding externo é baixa. "A transparência, previsibilidade e credibilidade na condução das políticas monetária, fiscal e macroprudencial são essenciais para mitigar os riscos sistêmicos", completou.

O colegiado ainda disse que a maior volatilidade e elevação das taxas de juros de longo prazo nas economias centrais, em especial nos Estados Unidos, e maiores incertezas em torno do crescimento na China, têm impactado as condições financeiras internacionais.

"O Comitê está atento à evolução dos cenários doméstico e internacional e segue preparado para atuar, de forma a minimizar eventual contaminação desproporcional sobre os preços dos ativos locais", assegurou. "O Comitê segue entendendo que políticas macroeconômicas que aumentem a previsibilidade fiscal, que reduzam os prêmios de risco e a volatilidade dos ativos contribuem para a estabilidade financeira e, consequentemente, melhoram a capacidade de pagamento dos agentes."

Em relação às vulnerabilidades no sistema financeiro internacional, apesar do alívio no estresse do setor bancário dos EUA, o Comef alertou que algumas instituições financeiras americanas ainda enfrentam desafios na captação de depósitos e no gerenciamento de liquidez. Os eventos bancários do início do ano, conforme o comitê, aumentaram mais as condições gerais de crédito no país, mas a autarquia afirma que ainda há incerteza sobre o impacto total no crédito, que já mostra desaceleração na concessão a empresas e famílias.

"A exposição de bancos médios ao setor imobiliário comercial, que continua sendo adversamente afetado pelos elevados níveis de vacância de escritórios desde a crise de covid-19, e sua importância para o crédito imobiliário em geral, seguem sendo pontos de atenção."

O BC ainda considerou que as autoridades globais têm atuado para manter a confiança nos sistemas financeiros e evitar o contágio para outras instituições e outras jurisdições, citando as medidas tomadas pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) e por outros reguladores americanos. "Várias jurisdições mantiveram ou aumentaram seus buffers contracíclicos de capital desde o último Comef."

Sobre a China, o Comef disse que aumentou a percepção de risco de liquidez e solvência em empresas de incorporação imobiliária e que o Banco Central da China vem atuando para dar suporte à atividade econômica, que teve recuperação aquém da esperada após o fim das políticas de covid zero. "Neste cenário, e em um contexto de aperto das condições financeiras globais, foram observadas também saídas líquidas de capitais e desvalorização cambial naquele país desde o último Comef", observou o colegiado.

Brasil

No cenário doméstico, o BC afirmou que o financiamento à economia real continuou desacelerando, mas disse que o principal foco de atenção ainda é o apetite ao risco das instituições financeiras na concessão de crédito às famílias e às empresas. Segundo o regulador, em relação às famílias, o ritmo de crescimento nas modalidades mais arriscadas, como cartão de crédito e crédito não consignado, permanece desacelerando. Mas o endividamento e o comprometimento de renda permanecem historicamente elevados, embora observe-se maior conservadorismo nos critérios das novas concessões.

Com relação às empresas, o ritmo de crescimento do crédito também segue desacelerando, mas não se percebe alteração relevante nos critérios de concessão, segundo o BC. "O Comef avalia que é importante os intermediários financeiros continuarem preservando a qualidade das concessões, levando em conta, notadamente, a exposição total dos seus clientes junto ao Sistema Financeiro Nacional (SFN)."

Em relação ao mercado de capitais, o BC afirmou que há uma progressiva retomada e que se mantém como fonte relevante de financiamento, principalmente para as grandes empresas. "Os spreads dos títulos de dívida corporativa diminuíram desde o último Comef, embora permaneçam em níveis superiores aos praticados anteriormente aos eventos ocorridos no início do ano", disse, em referência ao rombo bilionário das Americanas.

O Comef ainda disse que as provisões mantiveram-se adequadas, acima das perdas, esperadas, e que os níveis de capitalização e de liquidez do SFN continuam acima dos requerimentos prudenciais. Além disso, os resultados dos testes de estresse demonstram que o sistema segue resiliente.

"O impacto mais severo continua sendo o observado no cenário de quebra de confiança no regime fiscal. Teste de análise de sensibilidade verificou que mesmo que os ativos problemáticos dobrassem em relação a seus níveis atuais, o sistema não apresentaria desenquadramentos relevantes."


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