21/08/2023 às 11h38min - Atualizada em 21/08/2023 às 11h38min

Pecuária passa por pior crise dos últimos anos, mas picanha resiste em cair

Enquanto arroba do boi recuou 25%, corte bovino teve queda de 5%, indica consultoria HN Agro

Da Redação
Jovem Pan

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Foto: Jovem Pan

BRASIL - O mercado do boi gordo passa por uma das piores crises da história. Em 12 meses, o preço da arroba do animal pago ao pecuarista já acumula uma queda de 25%. Esse recuo é o maior para o período em pelo menos uma década. Dados da consultoria HN Agro indicam que, apesar da forte queda, o preço da carne bovina ao consumidor final não acompanhou a desvalorização na mesma proporção e a picanha caiu apenas 5%. Saiba mais sobre a pecuária e preço da carne ao consumidor no bate-papo com o diretor da HN Agro, Hyberville Neto.

Qual é o motivo dessa queda tão acentuada dos preços do boi ao pecuarista? É, de fato, uma das piores crises ou a pior da história no setor pecuário brasileiro?

Em relação à queda de preços, as variações realmente são bem mais fortes do que as observadas nas últimas décadas. Se a gente considerar o preço de janeiro a agosto, a gente teve uma queda de 19% e pelo menos desde 1998 é a maior queda para o intervalo. E por que isso aconteceu? Isso aconteceu pelos investimentos ocorridos na pecuária entre 2020 e 2021, principalmente 2019 e 2021. Com os preços em alta, o preço do bezerro remunerando bem o criador e isso gerou uma retenção de fêmeas para aumentar a produção. Só que a hora que essa produção chegou ao mercado em 2022, diminuiu a atratividade da atividade e o produtor começou a mandar mais fêmeas para o gancho, aumentando a oferta de carne e esse cenário tem sido observado desde 2022 e continua agora em 2023 gerando esse adicional de oferta e pressão ao longo da cadeia como um todo.

Essa situação é uma condição que já passou pelo pior momento ou ainda vai ter mais animais para entrar neste mercado? Esta crise na pecuária pode se prolongar até o final do ano ou até o início de 2024?

Tipicamente, a segunda metade do ano tem menos oferta do gado oriundo de pastagem e a gente tem uma importância maior do gado vindo de confinamento. Então eu diria que ainda a gente deve ter uma oferta incomodando do ponto de vista de precificação ao longo do ano. Só que paralelamente, a gente costuma ter um consumo, um escoamento um pouco melhor na segunda metade do ano tanto para as exportações como no mercado doméstico. Então eu não diria que a gente deve ter um mercado frouxo até o final do ano necessariamente, mas nós já esperávamos que esse mercado estivesse encontrado esse fundo de poço há algum tempo, então está difícil de realmente definir ou esperar de maneira mais clara a hora que esse mercado vai encontrar esse fundo de poço.

Vai cair mais, pelo menos no curto prazo, o preço da arroba ao pecuarista?

A gente tem hoje um cenário ainda de pressão de baixa e frigoríficos com programações de abate confortáveis e pressionando o mercado. Então eu diria que nessa próxima semana o mercado não está com cara de que vai ter encontrado esse fundo de poço, mas a gente vai observando essa diminuição ali do ânimo do produtor de vender esse gado a cada recuo. Então isso afeta investimentos e afeta oferta mais adiante, pensando naquele gado de confinamento que entra e sai no período mais curto, então o mercado não está em baixa há pouco tempo, é possível que já tenha impactado a disponibilidade de gado que a gente vai observar mais na reta final do ano. Agora realmente o mercado está num cenário de pressão que tentar acertar a hora que ele vai encontrar esse fundo está complicado.

O preço do boi pecuarista cai em função de uma maior oferta apesar de exportações aquecidas. O Brasil está exportando bem e esse é um fator que ajuda o preço a não se deteriorar ainda mais na sua avaliação? Você enxerga exportações quentes também para o segundo semestre?

Historicamente, a gente tem exportações maiores na segunda metade do ano. Quando a gente considera as expectativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, ele acredita que o Brasil vai aumentar suas exportações em 5% na comparação com 2022 e as exportações em 2022 foram as maiores que nós já tivemos. Então, a gente está falando do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos esperando mais um recorde para o Brasil. E como no primeiro semestre a gente teve uma pequena queda na comparação com o primeiro semestre de 2022, uma queda da ordem de 5%. Então como a gente tem essa queda para compensar, isso tudo nos leva na direção de uma boa exportação, da expectativa de uma boa exportação no segundo semestre para até compensar essa pequena queda e chegar nesse 5% se ele vier a se confirmar. Mas, na nossa expectativa, tem espaço para o Brasil quebrar mais um recorde de exportação esse ano. O grande problema esse ano tem sido a precificação também no mercado externo.

A oferta tem sido realmente o problema esse ano, da precificação do boi. Quando a gente fala de demanda, tanto no mercado doméstico, sazonalmente a gente tem uma melhoria na reta final do ano e as exportações costumam ser melhores e se somam essas expectativas que eu comentei. Então, realmente, a pedra no sapato da precificação tem sido essa oferta maior de gado que é em decorrência de bons momentos que nós vivemos há alguns anos.

Se o pecuarista teve uma queda de mais de 20% no preço pago pelo animal, por que a carne que o consumidor paga na hora que vai ao supermercado não caiu nessa mesma proporção?

O que aconteceu é que na fase de alta [de preços da arroba], o varejo não conseguia repassar toda alta então ele perdeu um pouco de margem nos últimos anos. E agora que os preços no atacado tem caído e o boi gordo também tem caído, o varejo está conseguindo ceder menos as cotações ou repassar menos e aí ele está absorvendo um pouco dessa margem. Então, isso para cadeia seria melhor, se o varejo estivesse derrubando mais os preços porque ajudaria no escoamento, mas faz parte do jogo, é o que o varejo tem feito, tem absorvido margem e isso acaba limitando essa melhoria de escoamento. A gente até teve, quando a gente considera a quantidade de carne que ficou no mercado doméstico no primeiro semestre, como a gente produziu muito mais carne e exportou um pouquinho menos, a gente ficou com mais carne no mercado doméstico, alguma coisa em torno de 14% a mais do que em 2022. Então o consumo aumentou, não porque a dona de casa está ávida está com poder de compra para consumir, mas porque os preços mais acomodados acabaram permitindo esse escoamento um pouco melhor.

O que podemos esperar para os preços da picanha?

A nossa expectativa é que podemos continuar vendo algum ajuste, mas eu diria que considerando que no segundo semestre o consumo doméstico costuma melhorar um pouco, talvez o varejo aproveite e recupere um pouco mais de margem. A menos que a gente tem aí uma constatação ruim, pior do que as expectativas, de o boi continuar cedendo. Aí, ao longo da cadeia, isso vai sendo repassado. Mas se a gente tiver perto desse piso para o boi gordo, eu diria que o varejo tem espaço para ceder mais um pouco, mas ele não deve seguir acompanhando esse momento de queda para o boi ao longo do semestre. Eu acho que no segundo semestre, o varejo deve encontrar um escoamento um pouco melhor e possivelmente sustentar as cotações.

O que você está dizendo que a picanha não vai cair mais, que ela pode até voltar a subir se o preço do boi gordo ao pecuarista no campo melhorar no segundo semestre?

Eu diria que no curto prazo, algum ajuste negativo ainda pode ocorrer mas do meio para o final do semestre, ali mais na reta final, quando a gente tem um escoamento um pouco mais consistente no mercado doméstico porque a melhor época de consumo é em novembro dezembro, aí eu diria que o que os preços devem reagir um pouco na nossa visão, na nossa expectativa.

 


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