12/06/2022 às 09h57min - Atualizada em 12/06/2022 às 09h57min

Histórias amazônicas são recurso terapêutico para pacientes do Hospital Ophir Loyola | Portal Obidense

Com o Projeto ‘Amazônia na Mala’, o ator Kadu Santoro levou animação e ajudou a minimizar as dores do tratamento oncológico

Redação
Agência Pará
Agência Pará
PARÁ - “Quando eu era pequeno, a minha rua era um rio. E eu sempre me perguntava para onde esse rio ia me levar”, iniciou o contador de histórias Kadu Santoro, durante programação neste sábado (11) na Divisão de Quimioterapia do Hospital Ophir Loyola (HOL). Com uma mala de contos e objetos cênicos, o artista iniciou a primeira apresentação do Projeto “Amazônia na Mala” no ambiente hospitalar.
 
Para Kadu Santoro, foi uma experiência singular. “As pessoas hospitalizadas precisam dessas atividades como forma de acolhimento. E as histórias enriquecedoras acolhem, dão esperança e nos amadurecem. Hoje, foi a primeira vez que eu fiz uma apresentação em que não estava preocupado com o retorno. Eu simplesmente narrei e deixei que as histórias fizessem o trabalho delas. Não deve ser fácil lutar contra um câncer. Então, se as histórias chegaram até os pacientes, se a apresentação foi importante para eles, e se amenizou um pouco da dor, então valeu a pena”, afirmou o artista, com 20 anos de vivência teatral.
 
O “Amazônica na Mala” conta com livros de escritores e músicas regionais. Histórias de Walcyr Monteiro, Patrícia Nogueira, Luciana Cavalcante e Guaracy de Brito Jr. foram algumas das selecionadas para ganhar a voz e atuação do artista, que em meio aos contos interpreta canções de Katulo Gutierres e Raimundo Lira. “Há seis anos moro no Pará. Conheci esse Estado pelo olhar da minha esposa, e me apaixonei. Gosto do cheiro, da comida, das pessoas dessa cidade. E tenho muito orgulho por juntar essas histórias e levar comigo nas minhas viagens. As pessoas precisam conhecer este Estado”, afirmou Kadu Santoro.
 
Estratégia - Na oncologia, a terapia ocupacional atua, dentre outras possibilidades, na promoção da qualidade de vida dos pacientes e na humanização dos atendimentos. É por meio dessa especialidade que os profissionais criam estratégias e atividades lúdicas, a fim de minimizar dores. “Na atividade de hoje, os pacientes puderam conhecer o trabalho do Kadu, que é um ator incrível. Ele trouxe para o ambiente hospitalar textos que promovem a nossa cultura e valorizam a nossa linguagem. A forma como ele contou as histórias fez com que a gente mergulhasse nesse contexto amazônico”, afirmou a terapeuta e chefe da Divisão de Terapia Ocupacional do HOL, Márcia Nunes.
 
A especialista explicou ainda que, assim como tantas intervenções da terapia ocupacional, a contação de histórias também é um recurso terapêutico relevante, uma vez que pacientes tendem a se envolver com a programação e dar menos atenção à dor. “O lado terapêutico de trazer o artista para este ambiente é que ele faz com que esqueçamos que estamos em ambiente hospitalar, minimizando os efeitos da internação, mesmo no aspecto ambulatorial da quimioterapia. Promovemos, dessa forma, maior qualidade de vida e trazemos alegria”, disse Márcia Nunes.

Histórias envolvendo açaí, florestas, caçadores e até mesmo o personagem Curupira captaram a atenção do público, que ouviu atento e interagiu com o artista. Zita da Silva, 65 anos, que faz quimioterapia para combater um câncer no colo do útero, disse que voltará ao município de Capitão Poço, na região Nordeste, onde reside, com novas histórias para contar. “Eu gostei de todas, mas quando começou a música do macaco, eu ri bastante e cantei também”, acrescentou.

A neta da aposentada, Raylla Santos, 19 anos, também aprovou a contação de histórias. “Mudou o clima da sala. Foi algo animado, pra cima, e a gente se divertiu bastante com todas as histórias”, disse a acompanhante.

Troca - Desde criança, Kadu Santoro notou que a veia artística pulsava mais forte. Aos 18 anos, o carioca ingressou em cursos livres de teatro, e consolidou a formação na universidade. “Pretendo levar esse projeto a outros hospitais. Já tive tantas oportunidades na vida, que esse é o mínimo que posso fazer. Eu não vejo as ações como um voluntariado, mas como uma troca. As histórias têm um poder transformador tão grande que podem fazer com que as pessoas esqueçam um pouquinho das dores, das preocupações. E a gente nota no olhar de agradecimento e no abraço espontâneo que alcançamos o objetivo. Isso não tem a ver comigo ou com satisfação pessoal. O importante aqui são os pacientes”, ressaltou.
 
Com lives de contação durante a pandemia de Covid-19, o artista montou espetáculos narrativos, que culminaram no “Amazônia na Mala”, projeto que iniciou em Recife (PE). “Trabalhar com arte é algo imprevisível, e a pandemia trouxe a contação de história como algo muito latente em mim, pois tínhamos de ficar em casa. Comecei a ter acesso a livros infantis, que sempre trazem histórias para todas as idades, e na internet me rendi à contação”, contou Kadu Santoro.


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