01/03/2018 às 17h00min - Atualizada em 01/03/2018 às 17h00min

Ervas-de-passarinho da Amazônia e do Pantanal brasileiro ganham novos polinizadores

O estudo foi publicado no periódico "Ecology" da Ecological Society of America, na sessão especial "The Scientific Naturalist".

Comunidação UFOPA - Talita Baena
Por: Walmir Ferreira
Foto: Rodrigo Fadini

ALTER DO CHÃO - Novos protagonistas entram para a história natural das ervas-de-passarinho, um grupo de plantas parasitas muito diversas, com mais de 1500 espécies descritas. Investigando a ecologia dessas plantas, um grupo de pesquisadores do Brasil e do México descobriu que o gênero Psittacanthus, com mais de 120 espécies conhecidas, não tem apenas beija-flores como potenciais polinizadores, mas também abelhas e morcegos. O estudo especula sobre o papel desses novos polinizadores para a diversificação do gênero. O artigo publicado pelo periódico está disponível aqui.

Rodrigo Fadini, que há mais de uma década estuda ervas-de-passarinho em savanas amazônicas, notou a presença de abelhas visitando flores de uma das três espécies de Psittacanthus em sua área de estudo. “Quando vi essas interações pela primeira vez, duvidei de mim mesmo, pois toda a literatura sobre o gênero documentava os beija-flores como visitantes florais dessas plantas”, lembra.

Recentemente, Fadini e uma estudante de mestrado, Sônia Castro, resolveram estudar a polinização dessa planta para confirmar suas suspeitas. Eles também buscaram outras evidências que identificavam o papel de outros animais na polinização do gênero. “As informações eram limitadas, mas havia algumas observações pessoais publicadas em um livro específico da área, além de um estudo não publicado, realizado no Pantanal brasileiro, que relatava a visitação de outra espécie de Psittacanthus por morcegos.” Assim, Fadini convidou Erich Fischer, professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), em Campo Grande, para desenvolverem um trabalho e documentarem essas interações. Além de Erich, coordenador do estudo no Pantanal, o grupo de pesquisadores da UFMS também é integrado por Andrea Araújo e Paulo R. Souza.

“O trabalho em si já era muito legal porque, além de descrever as interações, nós fizemos registros fotográficos e filmes de alta qualidade das espécies visitantes”, explica Fadini. Foi aí que surgiu outro personagem na história, Juan Francisco Ornelas, do Instituto de Ecologia, Veracruz, México. Juan Francisco entrou em contato com Fadini para pedir amostras de Psittacanthus do Brasil, a fim de estudar a filogenia do gênero. “Eu propus a ele que conduzisse uma análise preliminar, incluindo as espécies que estávamos estudando aqui no Brasil”, explica Fadini. O resultado foi surpreendente! As espécies visitadas por abelhas e morcegos se agruparam, formando um grupo diferente das espécies visitadas por beija-flores. Assim, a participação de Juan Francisco tornou-se essencial para o trabalho.

Os resultados encontrados pelos pesquisadores também colocam em cheque estudos que utilizam características pré-estabelecidas das plantas, como síndromes de polinização, para avaliar seus papéis em trajetórias evolutivas de outras espécies de plantas, incluindo as ervas-de-passarinho.

“É muito comum que pesquisadores assumam que os visitantes florais de uma espécie de planta sejam os mesmos de outras congêneres. Nosso estudo mostra que é preciso tomar muito cuidado com tais afirmações, sem que haja observações das interações em campo”, afirma.

Ciência básica x Ciência aplicada

Já se tornou senso comum considerar que os resultados de ciência básica, como estes que o Prof. Fadini e seus colaboradores apresentam, não possuem resultados imediatos, como os obtidos pela ciência aplicada. Porém, como destaca o pesquisador, muitos estudos de ciência básica podem se tornar aplicados no futuro.

“A ideia de que estudos básicos resultam apenas em gastos desnecessários não é correta. Há diversos exemplos de estudos conduzidos por pesquisadores apaixonados por história natural e ciência básica que resultaram em produtos e técnicas de aplicação na vida cotidiana das pessoas. E mesmo que não tenham aplicação prática, o que move a ciência é a curiosidade do cientista. Impedir que isso ocorra é um verdadeiro tiro no pé”, afirma.

“Nosso grupo de estudantes e pesquisadores vem estudando as ervas-de-passarinho sob vários aspectos em savanas amazônicas, florestas e áreas urbanas. Muita gente não sabe, mas ervas-de-passarinho produzem uma liteira muito rica em nutrientes e há experimentos mostrando que elas exercem um efeito propulsor da diversidade local de plantas e animais. Talvez possamos utilizá-las para acelerar a recuperação de áreas degradadas. De qualquer forma, parece sempre haver uma surpresa vinda desse grupo de plantas que têm planta e bicho no mesmo nome”, conclui.


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