Riqueza Arquitetônica

Não deixe cair no esquecimento

O Museu Web, que será apresentado de forma individual contando a história de cada monumento histórico de Óbidos, nesta sessão do Portal Obidense, na verdade é um resgate de uma belíssima obra, resultado de uma longa e minuciosa pesquisa do professor e historiador Márcio Rubens, que levantou informações acerca dos prédios históricos da cidade presépio que a anos estava esquecida nos arquivos da Casa de Cultura de Óbidos.

O Portal Obidense que tem em primeiro lugar o dever de elevar o nome de Óbidos e seus filhos, entende que a história da cidade mais “Portuguesa da Amazônia” não poderia ficar esquecida. Pensando nas gerações futuras, o Portal firmou uma parceria com o historiador para tornar acessível a toda e qualquer pessoa o resultado da pesquisa, por entender que é de domínio público e de extrema importância para os obidenses.  

Síntese Histórica de Óbidos

O Museu Contextual, que originalmente foi criado no formato de Museu de Rua, faz parte do projeto “Patrimônio Histórico Contextualizado”, através dessa iniciativa o Museu Web trará das ruas para rede mundial de computadores um pouco da história escrita em quase 318 anos de existência.

A leitura desta história se faz paralelamente à evolução urbana, primeiro determinada pelo COLONIZADOR PORTUGUES nos séculos XVII ao XIX, que impôs através da FORÇA (Forte Pauxis) e da IDEOLOGIA (Missão de Sant’Ana), a sedentarização do povo indígena em torno destes dois pontos, destruindo sua vida coletiva tribal. Com a destribalização, os índios, iam abandonando seus costumes “bárbaros”, passando a construir suas vidas e suas casas individualmente como os brancos “civilizados”.

A economia deste pequeno povoado baseava-se na coleta das drogas-do-sertão (cacau, salsaparrilha, cravo e etc...) tendo os índios aldeados em missões, utilizados pelo colono português, igreja e Estado, como coletores, remadores, construtores e etc..., estruturando bases para o desenvolvimento mercantil na Amazônia e Óbidos não foi uma exceção.

Ainda no período colonial, na segunda metade do século XVIII, como parte da política do Marquês de Pombal, ministro de D. José, rei de Portugal, foi criada a COMPANHIA GERAL DO COMÉRCIO DO GRÃO PARÁ E MARANHÃO, introduzindo negros escravos como parte de sua “política agrícola”, estimulando a cultura do cacau, tabaco e cana-de-açúcar, em substituição ao modelo extrativo. A CIA além de vender negros escravos para a região, era quem detinha o monopólio de importação e exportação de produtos.

Na evolução urbana de Óbidos, até a primeira metade do século XIX, torna-se difícil definir uma cronologia para as suas edificações. No seu primeiro século de existência, tem-se registro do Forte Pauxis, 1697, que foi irradiador de seu processo de formação, construído para fins estratégicos de defesa da região. Posteriormente adquire uma estrutura sólida resistindo até os dias de hoje, assim como a Igreja de Sant'Ana. Quanto às demais construções, pouco ou quase nenhum registro se obteve.

Somente a partir de 1958, quando Mendonça Furtado dá um novo direcionamento ao povoado, transformando-o em Vila de Óbidos (denominação de cidade de Portugal), como forma de garantir o poder dos colonizadores sobre a região, foi aberta uma praça a de Sant’Ana - nela construída um pelourinho, em sua volta, surgem edificações de cunho oficial e religioso. A casa de Câmara e Cadeia funcionavam em uma mesma instalação simples de taipa e coberta de palha, denominada “Palhoça” o que define perfeitamente as condições das produções arquitetônicas dos moradores da época.

Com o tempo a Vila se expande, as ruas começam a se definir com edificações em taipa alinhadas, coberta com telhas de barro com duas águas e beiral composto de caibros tosco.

As casas mais antigas de Óbidos, ainda existentes, demonstraram que eram edificações pequenas seguindo um padrão, mesmo aquelas pertencentes a classe social de maior poder aquisitivo.

A partir da segunda metade XIX, surge como recurso do estilo neoclássico as platibandas, sobrepostas à cornija, despejando as águas pluviais por intermédio de gárgulas.

 

A existência do porto de Óbidos foi um fato preponderante para o desenvolvimento econômico, social e urbano da cidade, devido ao seu grande fluxo de pequenas embarcações, funcionando como entreposto comercial de importação e exportação, onde toda a população ribeirinha do médio amazonas recorria à cidade para trocar (escambo) produtos como: castanha-do-pará, cumaru, entre outros, por toda sorte de mercadorias. É nesse período que iniciou o maior desenvolvimento urbano, principalmente com a chegada de um grande número de imigrantes italianos (principalmente), portugueses, judeus e outros.

Em 1854, Óbidos é elevada à categoria de cidade. Sua produção arquitetônica passa por um período de transição. É rompida toda uma forma tradicional de construir e morar do período colonial.

Surgem construções sólidas com rigor construtivo como os sobrados (Solar do Solimões, um dos mais antigos) na maioria localizados na área central do comércio. Os proprietário das edificações naquela época utilizavam o térreo para a comercialização, e o andar superior para residência. Em1870, é construído na cidade um exemplar da arquitetura com porão e fachada azulejada, atual prefeitura, já utilizando elementos arquitetônicos importados da Europa (azulejo, gárgulas, vidraças etc...).

Em consequência do desenvolvimento econômico que Óbidos passa a adquirir em função de sua produção regional, parcelas de sua população, na sua maioria imigrantes, contribuíram para uma sequência de melhoramentos no velho hábito de construir de origem colonial, aderindo ao “progresso” e ajustamento às civilizações europeias mais desenvolvidas como estava acontecendo com Belém, que influenciou as outras cidades paraenses.

Começaram a surgir em Óbidos os primeiros exemplares da arquitetura eclética, que conciliam velhos estilos a inovações tecnológicas, como é o caso da antiga residência do senhor Tito Valente do Couto, o prédio da Companhia Agrícola do Baixo Amazonas, o sobrado do senhor Belicha e outros desse período, que seguiam o mesmo estilo, porém, não se conhecendo os projetistas e construtores. Como produção oficial, surge em 1905 o Quartel do Exército e em 1926 o Mercado Municipal, também seguindo rigorosamente as características do estilo eclético.

E também no final do século XIX que Óbidos começa a adquirir infraestrutura, como a criação da iluminação pública a querosene em 1870, telégrafo, e outros. A partir da instalação do Quartel do Exército em 1905, são realizados com a participação do intendente municipal, transformações urbanas. A cidade passa por um processo de canalização de água, pavimentação de ruas, onde tais melhorias restringiam-se ao centro da cidade.

No projeto original do Museu Contextual, que foi constituído por um conjunto de painéis colocados em frente de prédios de valor Histórico-Cultural nos logradouros públicos (em nosso caso na grande rede mundial) constam informações acessíveis aos estudantes, comunidade em geral e turistas. Os prédios foram contextualizados em seu tempo, e não através de descrições históricas e arquitetônicas, mostrando que sua construção, uso, ocupação se diferenciam conforme o poder aquisitivo das classes sociais.

(Como não temos quase registro de imagem, expomos aqui as fotos moderna de nosso contemporâneo Mauro Pantoja).

A realidade de uso, estilo e ocupação dos prédios foi grandemente alterado com a falência na metade deste século, do modelo extrativo da economia amazônica remanescente do final do período colonial, substituída pela política dos Grandes Projetos; levando as famílias para os grandes centros urbanos como Belém, Manaus e outras capitai da região, onde aplicaram os seus capitais.

Dentro de uma nova realidade social e econômica, os prédios em sua maioria, são parcelados, onde antigamente morava apenas uma família, passaram a morar duas ou mais, conforme a dimensão dos mesmos, realidade está, motivada também pela crise habitacional.

Hoje, os prédios são ocupados com raríssimas exceções, por pessoas na sua maioria herdeiros, pequenos e médios comerciantes, alguns conservando outros alterando, conforme suas necessidades, gostos e modismo, muitas vezes influenciados entre outros, pelos meios de comunicação de massa. Percebe-se hoje na cidade três formas de ocupação dos prédios históricos: uma com a conservação de sua originalidade; a outra são adaptações sem a perda dos traços arquitetônicos originais; e a terceira com a descaracterização, através de modificações que comprometem suas características originais.

Para atender a dinâmica social de uma cidade, as adaptações em prédios são perfeitamente possíveis, a partir do momento em que sejam respeitadas suas características principais, com isso preservando parte de sua história que se escreve através de edificado.

Todo os créditos de pesquisa: Márcio Rubens S. Gomes.

Link
Comentários »
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp